Como saber sofrer


Três dias de descanso após jogo europeu.
Lesões de Danilo, Maicon e Jackson.
Ausência de Tello nos treinos que antecederam o jogo.
Vitória do Benfica no dia anterior.
Expulsão de Fabiano nos minutos iniciais da partida.
Principal objectivo: vencer; alcançado. Antes de qualquer crítica à prestação da equipa no último domingo é necessário incluir os cinco factores mencionados, e perceber que provavelmente existe ainda mais mérito dos jogadores e equipa técnica no desfecho do jogo do aquele que aparenta, relembrando que durante a primeira fase da época, nos jogos imediatamente posteriores aos realizados para a Liga dos Campeões, o Porto apenas ganhou metade (empatando com Boavista e Estoril e perdendo com Benfica).

(primeira fase de construção do Porto)
A nossa entrou em campo com uma disposição táctica semelhante à que tem vindo a apresentar desde o desaire na Madeira mas cedo se percebeu que a disponibilidade física não era a mesma. E Pedro Emanuel também o sabia, tendo exigido aos seus jogadores uma pressão inicial intensa, que apanhou o Porto de surpresa, algo que já não acontecia há uma série respeitável de semanas. Apesar de um primeiro calafrio, o efeito surpresa da equipa do Arouca cedo se dissipou e o Porto rapidamente tomou conta do jogo, com os mesmos princípios de saída em ataque organizado que nos tem vindo a habituar: sem pressão por parte do adversário, Casemiro desce para fazer o acompanhamento à dupla de centrais, enquanto os laterais vão subindo no terreno até ultrapassar o meio-campo, altura em que invariavelmente os médios descem no terreno para possibilitar uma linha de passe; com a pressão do Arouca, Óliver pela esquerda (triangulações com Indi e Casemiro) e Herrera pela direita (triangulações com Marcano e Casemiro) iniciavam a primeira fase de construção, fazendo a bola chegar rapidamente a zonas de perigo, sobretudo pela qualidade de transportar jogo que ambos possuem. Na frente, Quaresma começava desde bem cedo a mostrar a Balliu o quanto este ia sofrer durante o jogo, evidenciando-se pela facilidade com a qual conseguiu, ainda nos primeiros dez minutos de jogo, isolar-se em boa posição para rematar ou assistir um companheiro por mais do que uma vez, infelizmente sem sucesso na altura.

Com a estratégia bem delineada, e com a qualidade da equipa a sobrepor-se ao cansaço, o Porto parecia bem encaminhado para chegar rapidamente ao golo até que Fabiano, em mais uma saída displicente e ainda antes do primeiro quarto de hora, vê o cartão vermelho e obriga desde aí os jogadores do Porto - que tinham a gritante necessidade de gerir o esforço físico acumulado de uma série de jogos extremamente exigente - a trabalhos redobrados, a alterações tácticas profundas e a saber sofrer no jogo em que talvez fosse menos expectável que tal pudesse acontecer. A crítica pode ser dirigida a várias frentes: o contra-ataque que dita a expulsão inicia-se em mais um lance de bola parada inexplicável; a equipa técnica sabe que Fabiano não tem capacidade para servir de libero no momento defensivo da equipa, mas exige-se também inteligência para saber contornar certo tipo de situações, até porque nesta jogada específica, qualquer pessoa que avalie de novo o lance percebe que Ricardo chegaria à bola antes do jogador do Arouca, hesitando apenas no último momento quando vê Fabiano a correr na sua direcção.

A partir desse momento, Lopetegui procede à reestruturação da equipa, retirando Ricardo (que até estava a fazer uma exibição agradável e que merecerá nova oportunidade para breve
(Helton jogando como segundo central no
início de construção ofensiva)

- relembrando que o Porto vai à Madeira uma segunda vez nas próximas semanas) e colocando uma linha de três defesas com Indi a posicionar-se na lateral direita, ele que no esquema inicial aparecia como central do lado esquerdo. O Porto começa então a construção de ataque usando Helton, uma referência do plantel relativamente à eficiência com que recorre ao jogo de pés, como segundo central. Os laterais, Indi e Alex Sandro passaram então a dar um apoio mais efectivo na primeira fase de saída com bola, aproximando-se juntamente com Casemiro de Marcano e Helton permitindo assim uma maior segurança no passe. No momento defensivo, os extremos e médios recuavam para a zona do nosso meio-campo, fazendo Casemiro de segundo central, mostrando uma vez mais uma excelente capacidade de antecipação e desarme, pecando apenas no momento de circulação de bola, principalmente devido à subida de linhas por parte do Arouca que conseguia colocar rapidamente três jogadores a pressionar o nosso portador de bola, obrigando várias vezes ao recurso do passe longo, que nem sempre saía com a qualidade necessária.

Apesar da subida na intensidade de jogo por parte do nosso adversário, o Porto conseguiu manter o controlo de jogo e aproveitou as evidentes debilidades do Arouca para construir bons lances ofensivos. Herrera assume e muito bem o papel de número 10, e sempre que conseguiu fazer com que a bola caísse no flanco de Quaresma (já que Brahimi raramente foi capaz de criar perigo, apenas fazendo trabalhar o flanco esquerdo quando apoiado por Alex Sandro e Óliver), o Porto ficava perto do golo. Assistiu na perfeição Óliver e Aboubakar (este último que aproveitou para fazer o golo da vitória) e pelo meio sofreu também uma grande penalidade que acabou por não ser assinalada, tendo sido de longe o elemento mais em foco a nível ofensivo durante toda a primeira parte.

(Pressão ofensiva menos intensa após
o golo de Aboubakar)
Após o golo, o Porto consente ainda mais a subida no terreno por parte do Arouca, deixando de conseguir estancar o jogo interior da equipa de Pedro Emanuel, acabando mesmo a primeira parte a defender e bem recuado no terreno, talvez fruto do esforço acrescido que tivemos que realizar para alcançar o golo. A verdade é que apesar da dificuldade em suster a ofensiva adversária, a equipa parecia suficientemente equilibrada para não passar por qualquer tipo de percalço sério. Daí alguma dificuldade em compreender a decisão de Lopetegui em privar o meio-campo de Herrera, passando o mexicano para a lateral direita e deixando apenas Casemiro e Óliver no centro do terreno. O principal problema com esta nova estratégia do Porto terá sido a prematura perda de fulgor por parte de Aboubakar - que, em abono da verdade, fez uma excelente exibição durante toda a primeira parte - que reduziu em grande medida a capacidade de pressão interior da equipa, deixando o Arouca subir facilmente no terreno.

(pressão intensa obrigou o Porto a errar de
forma sistemática, permitindo
ao Arouca
recuperar facilmente a bola)
A falta de ligação entre sectores tornou-se clara e rapidamente o nosso adversário conseguia recuperar a bola, num registo extremamente similar ao que é habitual ver na equipa do Porto, fazendo-a circular para os muitos jogadores que tinha no ataque. Entramos na fase de jogo em que aprendemos, com as armas que tínhamos ao dispor (nove jogadores de campo na sua maioria extremamente fatigados), a saber sofrer e segurar uma vantagem que parecia poder ser ameaçada.

(delineado 4-4-1 no momento defensivo)



A equipa desdobrou-se num 4-4-1 no momento defensivo e devido à qualidade de Alex Sandro e Casemiro e à incrível serenidade de Marcano a ajudar a equipa a respirar, o Porto foi capaz de segurar uma importantíssima vitória que nos permite igualar o melhor registo de Vítor Pereira no campeonato com sete vitórias consecutivas, não tendo sofrido qualquer golo durante esta fase.



De realçar uma fraca prestação da equipa de arbitragem ao não assinalar uma evidente penalti sofrido por Ricardo Quaresma e ao ajuizar de forma errada os dois lances mais perigoso de toda a segunda parte: fora-de-jogo não assinalado no ataque do Arouca que quase chega ao empate e fora-de-jogo mal assinalado a Brahimi, numa jogada em que o argelino se consegue isolar perante Goicoechea.



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